Sonhadores

cropped-dscn1194.jpgÉ tudo tão mais fácil para os sonhadores, os idealistas, os inconformados. Há sempre uma convicção pela qual lutar, uma palavra a dizer, um amor a realizar. Há sempre um tudo, onde os outros não vêem mais nada.
De onde te escrevo, da vida que escolheram para mim, não resta nada. Deixei morrer os sonhos, os ideais, o amor. Hoje, sou como todos eles, os conformados, os realistas. Hoje, sou todos, só não sou eu. Vítima não serei, querer ser como todos e aceitar as suas escolhas, foi uma decisão que me pertenceu. Eram tempos difíceis para os sonhadores, a solidão levou o melhor de mim.

As palavras partiram, não restava nada para as alimentar. Tanto tempo depois, tentei convencê-las a regressar. Recorri à nostalgia, ao que restava de um amor que lhes deu vida. Pedi-lhes que voltassem, nem que fosse por um momento, para escrever as últimas palavras de amor, antes que só reste cinza, que o vento a leve e só fique este nada que as fez partir. Elas aceitaram ser as últimas palavras do que resta do sonho:

Um dia, como todos os sonhadores, descobri este cliché: o amor é o motor da vida. Mas não o escrevi em nenhuma carta ou poema, corria o risco de ofender os poetas que encontraram tantas maneiras bonitas de sublimar esse amor-motor. Hoje, antes que as poucas palavras que convenci a regressar me abandonem mais uma vez, quero escrever sobre a história bonita à qual gostaria de ter dado um final feliz. Achamos sempre que temos muitas histórias bonitas para contar, mas quando confrontados com a questão: e se só pudesses reescrever um final feliz, qual dessas histórias seria reescrita?
Nesse exacto momento sabemos, sem qualquer dúvida, qual é a história bonita da nossa vida. A minha és tu.
Mas, um dia eu deixei os ideais e os sonhos para ser mais uma como todos os outros e isso não se prevê, porque, dir-me-ias tu, quem se alimenta de sonhos não pode viver de realidade.
Tu tinhas todos os ideais, eu tinha todos os sonhos. Naquela altura não havia tempo certo. A nossa história era tão simples como é o amor. Era desafiar as leis de um mundo paralelo.

Um dia, vi o mundo dos outros, achei então que era mais calmo, mais sensato e que eu já não tinha mais tempo para ideais ou sonhos. Eles estavam certos e eu estava errada, não havia amor sem materialização e tu quebravas todos os códigos desse mundo paralelo. Disseste-me, quando me viste partir, “O que nos aconteceu? Não te quero perder”. Aquele momento foi a materialização de tudo o que sempre guardamos.

Eu parti. Do outro lado, do lado dos realistas e dos conformados, não encontrei nada. Eles estão todos aqui, para me felicitar pelas escolhas sensatas. Eles estão todos aqui para me relembrar que a realidade foi mais rápida do que os sonhos. Ah, se me ouvissem! Dir-me-iam incrédulos que essa guerra já passou e que escolhi o melhor lado da batalha. E acrescentariam surpreendidos que pareço uma idealista inconformada a questionar uma verdade que todos sabem absoluta! Os sonhadores não vão longe, alimentam-se de um mundo que ninguém compreende, explicar-me-iam, eles vêem um tudo onde não há nada!

Espero que continues a sonhar, de onde estou não vejo nada e sei que as palavras vão partir. Não há sonho nem amor que as alimente. Se um dia as encontrares, espero que elas te contem o final feliz que gostaria de ter escrito.

Lara Lia

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